Hey, your glasses!

Cheguei como de costume jogando a bolsa na mesa da cozinha, tirando meus sapatos sempre tão desconfortáveis e fazendo o que mais gostava, tocando o chão. Liguei o fogo e coloquei a água para esquentar enquanto tirava aquela roupa mais terrível que os sapatos. Liguei o som, coloquei aquela banda que eu gosto tanto e peguei meus cigarros de dentro da bolsa. A água já borbulhava e estava pronta para o meu café, sentei na área do fundo de casa e vacilei ao acender o primeiro cigarro, estava tudo como sempre era, sempre fazia isso quando chegava, o sol sempre no mesmo lugar, como um ritual. Olhei ao redor, brinquei com meu labrador que sempre me recepcionava aos pulos e decidi: ia ser diferente. Olhei aquele muro que dava no telhado e lembrei de quando subia nele pra olhar as estrelas sozinha, e apesar daquele sol todo resolvi subir. Peguei uma cadeira, meus cigarros e o café, com pouco esforço já estava lá, com aquela vista linda e aquela cidade toda viva, cheia de gente correndo pra lá e pra cá, cheia de carros, cheia de intenções. Peguei o cigarro novamente e dessa vez não me permiti a um vacilo, acendi e senti aquela fumaça passar pela garganta, entrar pelos pulmões e sair com completa leveza, alivio imediato. Aquela sensação de vazio (não de tristeza, de vazio apenas) ia se desfazendo a mesma medida que aumentava, sem sair do lugar em meio a fumaça do cigarro, o cheiro do café e a música hipnotizante. O sol do fim da tarde tocava a minha pele mas não ardia, era doce e singelo, como um toque de alguém querido. E lá estava eu mais uma vez, junto com a pessoa que eu mais gostava de ficar, eu mesma. Só se ouvia a música.


"All these places had their moments, with lovers and friends I still can recall. Some are dead and some are living. In my life I've loved them all."