segunda-feira, 23 de abril de 2012

Direto ao ponto

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Saímos os dois pela porta da frente como se tivéssemos combinado um encontro, como se ao menos nos conhecêssemos. Eu estava atrasada como sempre, correndo cheia de papéis na mão, indo para uma reunião importantíssima com alguns clientes. Não imaginava o que poderia acontecer, não pensava em nada que não fossem os sapatos apertados que insistiam em machucar meus pés. E foi de repente, como um beliscão, uma pontada bem fraquinha quase imperceptível e meu coração se encheu de alegria. Era um misto de dor, alegria e dor, exatamente nessa proporção. Era uma alegria que inundou cada centímetro da minha pele, uma vontade de gritar e sair correndo, um brilho que eu não conseguia segurar, e todos os papéis caíram ao chão, nem ao menos lembrava o que de tão importante tinha de fazer. Mas foi passando, aos poucos e bem devagarzinho, e então eu vi todo aquele sangue que só mais tarde eu pude entender que era necessário, todo aquele sangue lavando minhas roupas e caindo na calçada, quente demais. E quando a alegria passou me dei conta da flecha, ela, estancada no peito, ferindo mais do que eu poderia suportar. Fiquei ali, parada vendo as pessoas passaram nem um pouco preocupadas com o sangue vermelho vivo colorindo o chão. Ninguém se importava de verdade, ninguém podia ver. Mas porque isso ? Ninguém iria me ajudar? Dobrei os joelhos e cai, queria mais do que tudo chorar, mas não conseguia, nem falar eu podia. Ardia, queimava, brotava cada vez mais e mais e eu não tinha forças de levantar as mãos em direção a ela e tentar arrancá-la. Maldito cupido, cheio de suas brincadeiras sangrentas, me escondi tanto de sua mira e agora estou aqui, sentada no meio da rua atingida por ele. A tarde já estava caindo e eu pensei por um segundo que ficaria ali eternamente, pensamento rápido. Senti que estava me recuperando já e que mesmo que demorasse eu conseguiria sim voltar para casa. Então ele veio, galanteador e despreocupado, em minha direção, a única pessoa que passava e me via. Ele tampava o resto do sol que eu podia ver e só pude sentir ele se sentando ao meu lado, resmungando alguma coisa e segurando com força, com as duas mãos a flecha. Então ele puxou. Foi como uma estaca sendo arrancada, podia sentir cada fiapo da madeira cortando meu peito e o sangue quente escorrendo com mais intensidade. Mas então eu pude enfim abrir os olhos e ver seu rosto, magro e pálido, com os cabelos negros cortando a leve brisa que passava. Ele tinha a camisa toda ensanguentada e no meio um buraco, como o meu, de uma flecha à pouco retirada. Abri mais ainda os olhos e ele sorriu, um sorriso cheio de dentes e com uma beleza tão grande que invejava. Agradeci bem baixinho, era o máximo que podia fazer, mal podia endurecer minhas pernas para levantar. Ele disse para eu não me preocupar, que ele tinha sido atingido também, assim como eu, e que toda essa dor passaria. Queria estar como ele, e senti-me uma fraca quando disse ter sido ele mesmo a arrancar a própria flecha. Queria eu poder ter tido força, mas ele me explicou, disse que era certo que ele teria que fazer isso, que quando foi acertado me viu, e sabia que eu também estava sendo acertada no mesmo lugar, para mais tarde nos encontrarmos de vez., e foi feito, assim nos encontramos.


2 comentários:

  1. Laís respirando e pensando.
    Tá, eu sempre tenho que fazer isso quando passo por aqui, e termino de ler algo. Quando me dou conta, já estou próxima demais da tela, quase entrando na história. Sério! Awn. Maldito cúpido! Digo, o meu é. Ele não acerta as pessoas que eu quero. Será que ele não acha que elas são as certas? Ele é um idiota! :( Ops.. Pera. Eu falo tão mal do meu cúpido, que talvez seja esse o problema. Nunca tinha parado pra pensar. Mas talvez ele viva zombando da minha cara porque eu nunca faço as pazes com eles. É, não somos amigos. Nem pensar! =/ Ai meu Deus, escrevi demais, amiga. Sorry! Mas seus textos sempre me fazem pensar, e eu gosto. Beijos, tou com saudades.

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    1. Aaaai anjo adooooro seus comentárioos! Leio e releio eles sempre, acho que não é só o seu cupido que está com problemas, o meu eu não vejo a tempos! eiouaeuaoeiuaeoiua

      Saudades

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